Xultrophy: Insulina + GLP-1 (menos hipoglicemias, melhor A1C e perda de peso!)
Diabetes

Xultrophy: Insulina + GLP-1 (menos hipoglicemias, melhor A1C e perda de peso!)


Por Ronaldo J. P. Wieselberg

No último congresso da ADA (American Diabetes Association), neste ano, foi apresentado um trabalho que demonstrava os benefícios de um “novo” medicamento para o diabetes, chamado Xultophy. Novo, entre aspas, porque, na verdade, ele não é exatamente algo novo no mercado...
http://diatribe.org/xultophy-beats-out-lantus-major-clinical-trial-a1c-weight-and-hypoglycemia-benefits

O Xultophy nada mais é do que uma mistura (em quantidades certas!) de insulina Degludeca (Tresiba) e da Liraglutida, um dos agonistas de GLP-1 (Victoza). Os três produtos em questão – Xultrophy, Tresiba e Victoza – são produzidos pela NovoNordisk. Até aí, nada demais – não fosse o fato de que o Xultophy “venceu” a Lantus (insulina glargina) durante o estudo, ou seja, exibiu mais benefícios para pessoas com diabetes tipo 2 (DM2).

Para entender essa “vitória”, vamos explicar rapidamente como são feitos os estudos de novos medicamentos.

Depois que o novo medicamento é testado em cobaias – principalmente ratos – e em pessoas saudáveis, para que haja segurança – ou seja, para que saibamos que esse produto não vai causar malefícios a quem o utilize! – o medicamento pode ser testado em pessoas que têm a doença que ele trata – no caso, diabetes. Esse momento dos estudos é chamado de “Fase 3”.

Em geral, os estudos são “desenhados” com dois grupos escolhidos aleatoriamente: um grupo vai receber o tratamento experimental... E o outro, não vai. Porém, seria extremamente antiético deixar o grupo “não-experimental” (controle) sem nada. Isso poderia, entre outras coisas, piorar o quadro que estamos tentando tratar – e o estudo inteiro seria um tiro nos dois pés e nos dois joelhos.

Portanto, o grupo que não recebe o tratamento experimental vai receber, em vez disso, o melhor tratamento disponível para aquela condição. Importante saber: nem os médicos que estão tratando as pessoas, e nem as pessoas sabem se estão recebendo o tratamento experimental (novo) ou não – uma vez que saber disso poderia influenciar a pesquisa. Imagine só, você deposita suas esperanças naquele tratamento experimental, mas descobre no meio do caminho que não está recebendo a novidade... Você continuaria com o mesmo ânimo a usar o medicamento em teste? Esse é um dos motivos dos chamados “estudos de caso-controle duplo-cego randomizado”.

Então, voltando ao Xultophy, ele venceu a Lantus num estudo caso-controle duplo-cego randomizado. Esse estudo foi feito com pessoas com DM2 que usaram a Lantus como insulina basal. Enquanto a Lantus baixou a hemoglobina glicada das pessoas no estudo, em média, 1,1% (de 8,2% para 7,1%), o Xultophy baixou a hemoglobina glicada, em média, 1,8% (de 8,4% para 6,6%).

O interessante destes números é que eles demonstram a maioria dos pacientes no “mundo real”, ou seja, que não conseguiriam controlar a glicemia normalmente. Isso é bastante útil, pois evita um viés do estudo que existiria se as pessoas no estudo estivessem controladas: “se ele já estava controlado antes do estudo, pode significar que já existia disciplina e tratamento efetivos, manter uma glicada boa ‘esconderia’ o resultado”.

Como se não bastasse, o número de hipoglicemias em quem usou o Xultophy diminuiu bastante, cerca de 57%, sendo que diminuiu em 83% a incidência de episódios de hipoglicemia noturna – que são potencialmente mais perigosos para a pessoa com diabetes.

Em relação ao peso das pessoas no estudo, a Lantus – como todas as insulinas – demonstrou um pequeno ganho de peso. Em contrapartida, o Xultophy demonstrou uma perda de peso, o que é bastante benéfico para quem tem diabetes – uma vez que o ganho de peso favorece o aumento da resistência à insulina (mesmo em quem tem diabetes tipo 1!) e prejudica o controle do diabetes, além de aumentar o risco cardiovascular.

Tudo bem, mas e quais os efeitos adversos desse novo medicamento? Sabemos que todo medicamento tem algum efeito indesejado – portanto, para que seja utilizado, o médico vai pesar os prós e contras.

Bem, por ter um agonista do GLP-1 na mistura, o Xultophy causou bem mais náusea do que a Lantus, em cerca de 4% dos pacientes. É claro, 4% é um número considerável – a cada 1 milhão de pessoas usando o produto, 40 mil terão náuseas –, mas em comparação com o Victoza, usado sozinho, a incidência de náuseas foi menor.

Por que esse medicamento agiu tão bem? Bem, vamos pensar nos dois medicamentos “misturados” separadamente.

A insulina degludeca é uma insulina ultralenta, ou seja, “basal”. Ela é utilizada com o objetivo de manter a glicemia estável durante o dia, nos momentos em que não há consumo de comida. Muitas pessoas com DM2 usam insulinas basais (Lantus, Levemir ou a NPH mesmo!) para “segurar” a glicemia ao longo do dia, deixando o “restinho” de insulina do pâncreas para os momentos de refeição.

Já a liraglutida (análogo de GLP-1) é uma versão “sintética” de um hormônio produzido pelos intestinos quando comemos. Esse hormônio – chamado de Glucagon-like peptide-1, ou seja, “peptídeo similar ao glucagon do tipo 1” – age estimulando o pâncreas a produzir insulina, diminuindo a velocidade de esvaziamento do estômago no momento da refeição – portanto, a pessoa que usa esse medicamento fica com o estômago cheio por mais tempo, podendo inclusive ter náuseas e falta de apetite – e também age no cérebro, favorecendo a saciedade mais rapidamente – então, a pessoa acaba comendo menos e evitando o ganho de peso. Como se não bastasse, alguns estudos demonstraram que o GLP-1 (e portanto, suas versões sintéticas também!) aumentariam a massa de células beta no pâncreas, assim como a funcionalidade delas também seria aumentada!

Então, a ideia por trás de “misturar” os dois medicamentos é interessante. As funções de “reservar” o restante de insulina do pâncreas, e ao mesmo tempo potencializar a função das células beta, aumentando a quantidade delas no pâncreas, diminuindo a fome da pessoa e diminuindo a resistência insulínica – pela perda de peso – é algo digno de nota.

Na Europa, esse medicamento já está sendo comercializado. Porém, como a Tresiba ainda não foi aprovada pelo FDA – órgão dos Estados Unidos (EUA) que aprova medicamentos, basicamente a ANVISA de lá –, os EUA ainda vão precisar de um tempinho para ter o Xultophy nas mãos...

...ou não. A Sanofi, empresa que produz a Lantus e o Lyxumia – outro agonista de GLP-1 – já está produzindo sua versão “misturada”, chamada até o momento de “Lixlan”, e que deve chegar aos EUA bem mais rápido do que o Xultophy.

No Brasil, ainda não temos previsão da liberação destes medicamentos, mas é questão de tempo. Outros estudos sobre estes mesmos produtos também estão em andamento em pessoas com diabetes tipo 1 (DM1), que apesar de não terem o benefício por “aumento da massa/funcionalidade de células beta” – lembrando, DM1 é uma doença autoimune caracterizada pela destruição das células beta – podem se beneficiar devido ao aumento de saciedade, redução da resistência à insulina e prevenção do ganho de peso.

Forte abraço, e até a próxima!

Ronaldo J. Pineda Wieselberg
Young Leader in Diabetes - IDF
Assistente de Coordenação do Treinamento de Jovens Líderes em Diabetes
Monitor Acampamento ADJ-UNIFESP-NR
Acadêmico em Medicina, 4º Ano - FCMSCSP

Fonte:
diaTribe. Xultophy Beats Out Lantus in Major Clinical Trial. Disponível em: http://diatribe.org/xultophy-beats-out-lantus-major-clinical-trial-a1c-weight-and-hypoglycemia-benefits Acesso em: 6 de julho de 2015.




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